sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Primeiro capítulo do livro....Olhares diferenciados sobre a infância

Olhares diferenciados sobre a Infância


Quando nos propomos estudar a criança de forma completa, não podemos deixar de lado o meio em que ela vive. A forma como é criada faz toda a diferença no desenvolvimento emocional, físico, social e o espiritual. As crianças que chegam até nós na igreja, vêm cercadas por desejos, sonhos, e na maioria das vezes frustrações, desilusões, carência. Como igreja, temos o papel de levar essas crianças a alcançar os sonhos de Deus, dando a elas a possibilidade de viverem por completo os desígnios de Deus, ensinando-as e instruindo em toda boa obra, assim como está escrito em Colossenses 1.10:
“... para que possais andar de maneira digna do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus”.

A visão da infância que temos hoje é de que a criança é um ser com capacidade de tomar decisões com inteligência, tem personalidade e caráter próprio. Tem vontade e capacidade de aprender e assimilar as coisas ao seu redor, ou seja, é um ser humano como todos nós. Não é difícil pensarmos a criança dessa forma, mas nem sempre o mundo teve essa visão sobre a infância.
Segundo o historiador francês Philippe Ariès (1962), até o século XVII as crianças não eram vistas como qualitativamente diferentes do adulto. O olhar diferenciado sobre a criança teria começado a se formar com o fim da Idade Média, sendo inexistente na sociedade desse período. Segundo esse historiador, isso podia ser visto e comprovado, através das composições artísticas da época, não havia uma característica particular e singular na infância e sim homens de tamanho reduzido. 
As pessoas não se detinham diante da imagem da infância como vemos hoje. Não faziam isto porque a infância, não tinha para eles interesse. Isso faz pensar também que na vida real, e não só nos retratos, a infância era um período de transição, logo ultrapassado, e cuja lembrança também era logo perdida.
É a partir do século XIV que a criança começa a ser retratada. Esses retratos vinham através de figuras como anjinhos, e muito freqüentemente na imagem do menino Jesus, surgindo daí então, a idéia de que a criança era a imagem do homem reduzido.
A criança não estava ausente na idade média, mas nunca era o modelo de um retrato de uma infância real.
Podemos entender que a infância era apenas uma fase sem importância, que não fazia sentido fixar na lembrança. O sentimento de que se geravam muitas crianças para conservar apenas algumas, permaneceu muito forte durante muito tempo. As pessoas não podiam se apegar muito a algo que era considerado uma perda eventual. Assim que a criança crescia, sem necessitar do apoio de sua mãe ou de sua ama, era ingressado na sociedade dos adultos e não se distinguia mais destes. 
Não se pensava como normalmente se pensa hoje, que a criança tinha em si a personalidade do homem. Elas morriam em grande número. A criança era insignificante. Não podemos nos surpreender com este tipo de frieza da sociedade, pois eram comuns nas condições demográficas da época. Assim que a criança superava o período de alto nível de mortalidade, em que sua sobrevivência era improvável, ela se confundia com os adultos.
A descoberta da criança sem dúvida se deu no século XIII e sua evolução no decorrer dos séculos XV e XVI. Foi nesse período que se descobriu que a alma da criança era imortal, e logicamente isso só era concebido devido à cristianização mais profunda dos costumes.
Um novo sentimento da infância pode ser notado, em que a criança, por sua ingenuidade, gentileza e graça, se tornava uma fonte de distração e de relaxamento para o adulto, um sentimento que pode ser chamado de “paparicação”, que são as primeiras demonstrações de interesse pela infância. Nessa época em situações de morte infantil, antes considerada inevitável, e até previsível, era agora recebida com muita dor e abatimento.  
Assim como o olhar diferenciado em relação à criança não é algo comum na Idade Média, o sentimento de família também começa a se desenvolver a partir dos séculos XV e XVI.  Não podemos pensar que a família em si não existia; o que não se observava era a visão dela como algo privado, reservado à intimidade. Nessa época, as relações sociais e a vida pública eram tão presentes que se mesclavam, se confundiam ao ambiente familiar (momentos íntimos eram muito raros).
Veremos neste primeiro capítulo três tipos diferentes de visões a respeito da criança: a visão do mundo, a visão da igreja e a forma como Deus vê seus pequeninos. 



1. A criança na sociedade

Como resquício dos séculos passados, a criança ainda é vista como um ser livre de maldade, sem a capacidade e intenção de fazer o mal, ou seja, “pequenos anjinhos”. 
Esse sentimento nos leva a “tolerar” determinadas atitudes, faltas ou erros cometidos pelas crianças, por isso somos muitas vezes, incapazes de conceber que a criança precisa de salvação, libertação e cura.
Cada dia mais os valores de Deus têm sido deturpados e invertidos. Podemos ver isso nos pais que hoje imploram pelo amor dos seus filhos e em crianças que são verdadeiros ditadores dentro dos seus lares. 
A “exploração da infância” hoje, é um dos fatores mais importantes que impulsionam a economia. São as crianças que levam seus pais a um consumismo exacerbado, sendo que esse consumismo é a tentativa desesperada de suprir os vazios deixados pela falta de limites e valores corretos.

2. A visão da Igreja

“Então lhe trouxeram algumas crianças para que lhes impusesse as mãos, e orasse; mas os discípulos os repreenderam. Jesus, porém, disse: Deixai as crianças e não as impeçais de virem a mim, porque de tais é o reino dos céus”. Mateus 19.13,14

Infelizmente a igreja de hoje também não consegue enxergar a criança como um ser dotado da capacidade de aprendizado, com características, dons e unção própria.
A igreja não leva em consideração que as crianças de hoje certamente serão os futuros pastores, missionários, mestres, apóstolos, ministros.
Essa visão em torno da criança pode ser vista no trato da igreja com os pequeninos. Freqüentemente vemos as crianças colocadas em lugares completamente desestruturados, em condições precárias, líderes completamente incapacitados de levar essas crianças aos seus destinos em Deus. As atividades não passam muitas vezes de distrações, para que os pais participem dos cultos, pois no pensamento geral, são esses que verdadeiramente precisam ouvir a Palavra, participar dos cultos, conhecer Deus.
A dificuldade de recrutar obreiros para esse ministério é uma prova de que as crianças são vistas como um incômodo e não como uma bênção para a igreja.
Em uma pesquisa a APEC revelou que 80% dos adultos que são convertidos hoje, se converteram ainda quando criança!!!  
3. Como Deus vê os pequeninos
“... porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem olha para o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração”.      1 Samuel 16.7.
Por diversas vezes na Palavra vemos o Senhor repreendendo seus discípulos por impedir que as crianças chegassem até Ele. 
Certamente podemos pensar que esses discípulos achavam que as crianças não eram tão importantes a ponto de receberem uma atenção especial de Jesus, mas Jesus não só as achava importantes, como dizia que se não fôssemos como uma criança, não poderíamos entrarno Reino dos Céus. Quando pensamos a que Jesus se referia, podemos pensar na simplicidade, na sinceridade e também na espontaneidade que a criança possui sem que faça qualquer tipo de esforço para tal. 
Em Mateus capítulo 18, percebemos o quanto Jesus se importava com as crianças, e ainda como Ele queria que olhássemos para esses pequeninos:
“Naquela hora chegaram-se a Jesus os discípulos e perguntaram: Quem é o maior no Reino dos Céus? Jesus, chamando uma criança, colocou-a no meio deles, e disse: Em verdade vos digo que se não vos converterdes e não vos fizerdes como crianças, de modo algum entrarão no reino dos céus. Portanto, quem se tornar humilde como esta criança, esse é o maior no Reino dos Céus. E qualquer que receber em meu nome uma criança tal como esta, a mim me recebe. Mas qualquer que fizer tropeçar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma pedra de moinho, e se submergisse na profundeza do mar”.
Deus não vê como vê o homem! Deus olha para o que está em nosso coração. Assim como Davi escreveu no Salmo 139:
“Senhor, tu me sondas, e me conheces. Tu conheces o meu sentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento. Esquadrinhas o meu andar, e o meu deitar, e conheces todos os meus caminhos. Sem que haja uma palavra na minha língua, eis que, ó Senhor, tudo conheces. Tu me cercaste em volta, e puseste sobre mim a tua mão... Pois tu formaste os meus rins; entreteceste-me no ventre de minha mãe. Eu te louvarei, porque de um modo tão admirável e maravilhoso fui formado; maravilhosas são as tuas obras, e a minha alma o sabe muito bem. Os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui formado, e esmeradamente tecido nas profundezas da terra. Os teus olhos viram a minha substância ainda informe, e no teu livro foram escritos os dias, sim, todos os dias que foram ordenados para mim, quando ainda não havia nem um deles”. 
Se o Senhor se preocupa com o que está em nosso coração, logo, agradar ao Senhor não está no muito fazer, ou em grandes canções ou em belos templos. O que verdadeiramente agrada ao Senhor está em nosso coração. E o Senhor nos conhece antes mesmo de termos sido trazidos à existência. Deus deseja é um coração puro! 
Quando Deus olha para uma criança, Ele não vê um ser desprovido de entendimento ou capacidade de conhecê-lo e servi-lo. O sentimento de Deus para com as crianças é o mesmo sentimento que Deus tem para conosco.
Pois eu bem sei os pensamentos que penso de vós, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar um fim que esperais. Então me invocareis, e ireis e orareis a mim, e eu vos ouvirei. Buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso coração. E serei achado de vós, diz o Senhor...” Jeremias 19.11-14
O Senhor vê Profetas, Mestres, Pastores, Apóstolos, Evangelistas...!
As crianças são herdeiras do Reino de Deus, elas têm livre acesso a esse Reino como vimos em Mateus. O Espírito que habita em mim e em você é o mesmo Espírito que quer habitar em uma criança!
Para termos uma idéia um pouco mais ampla do sentimento de Deus para com os pequeninos, é só lermos à passagem que Jesus fala:
“Vede, não desprezeis a nenhum destes pequeninos; pois eu vos digo que os seus anjos nos céus sempre vêem à face de meu Pai que está nos céus”. Mt 18.10
Deus coloca anjos especialmente para crianças, que dão constantes relatórios ao Pai, tamanho o cuidado de Deus. 
Devemos pensar: se somos discípulos de Jesus, ou pelo menos pretendemos ser, o mínimo que podemos fazer é buscar ter o mesmo sentimento de Deus. E Deus ama seus pequeninos. Devemos amar e cuidar desses pequeninos!